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Enchentes

A rua onde a gente mora está completamente alagada e não tem jeito de sair do quarto no segundo andar. A algumas pessoas tentam salvar móveis, geladeiras, camas e as crianças brincam na enxurrada lamacenta que carrega ratos, lixo, latas velhas, sacos plásticos e, certamente, muita doença transmissível.
A rua onde a gente morava era de terra, tinha sarjetas de pedra bruta, calçadas também de pedra ou tijolo e nunca houve nenhuma enchente, somente acontecia a enchente das goiabas, que ocorria sempre no finalzinho de fevereiro começo de março, sem falhar. As goiabas, maduras, caiam nos quintais e se esborrachavam no chão úmido e escorregadio.
Na beira dos córregos eram devoradas pelos peixes, patos e galinhas que vinham ciscar na margem. O rio Pardo corria mais veloz, a capituva das margens enverdecia e lambia as águas barrentas que carregavam aguapés, montes de capim, alguma capivara descia de cabeça pra fora, tonta com tanta água, desorientada, pedindo ajuda e era abatida.
Da janela do quarto na cidade escura e triste, vejo ônibus parados, pessoas tentando fugir das águas violentas, uma miséria sem fim, como o destino das pobres capivaras abatidas a tiro.

Juvenil de Souza acabou de
comprar um canivete Corneta, cabo de
ferro, para fazer cigarro de palha...


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