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Carne valem

O padre espanhol perorava na igreja
contra o que ele chamava de carnevalem,
que vinha do latim - a carne vale
- querendo dizer com isso que os quatro
dias de folia giravam em torno do império
da carne e do diabo. Pura ingenuidade
dele, o carnaval era ingênuo e puro,
nada de carne e nem sexo, como ele
supostamente pensava. Todos usavam
lança perfume apenas para perfumar as
moças, donzelas castas e puras que não
mostravam nem os braços, recatadas,
ingênuas e que somente sonhavam com
o futuro noivo, casamento, filhos e uma
casa com móveis novos e assoalho de
madeira encerado com cera Parquetina.
O carnaval era no clube velho e no “clube
dos pretos“ na praça Santo Antônio.
Tinha matiné aos domingos e terçasfeiras
para a molecada ainda de calcas
curtas, e à noite era para os maiores de
idade. A gente bebia rum com Coca
Cola, Martini doce, às vezes pinga com
Fernet, Fogo Paulista, Kümmel- bebida
que tinha açúcar cristalizado no fundo
da garrafa e que dava um porre danado
de ruim. Às vezes alguém tomava uma
Poker colocada para esfriar na água da
sorveteria do Zé Malim, ou uma Niger,
cerveja escura de gosto amargo. No fim
da festa, o confeti ficava concentrado
nos copos em cima da mesa, a serpentina
se enroscava nos pés da gente e o
perfume pairava no ar, embriagante.
Mas isso foi há muito, muito tempo
atrás. Hoje nosso coração é morto e
frio, como uma pedra gelada no sereno
da madrugada.

Juvenil de Souza aguarda,
ansiosamente, a chegada de uma
encomenda do elixir da juventude
que mandou vir da China.


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