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Contabilidade

Em nosso livro do Deve & Haver,
tem quase que somente Deve, grifado
em negrito com tinta azul ferrete, escrito
com caneta de madeira e pena de aço,
daquelas bem antigas que não se usam
mais e que se perderam no tempo. Na
coluna de letras redondas e bem feitas
estão registradas todas as perdas havidas
durante este longo tempo em que
permanecemos neste vale de lágrimas;
dentes; cabelos, unhas enegrecidas do
fumo dos cigarros fumados sem parar,
um atrás do outro, a cicatriz no rosto do
tombo em cima de um arame farpado, a
fumacinha subindo da chaminé do trem
onde viajou aquela moça para lugar desconhecido
e nunca mais voltou, flores,
folhas e galhos descendo o rio Pardo,
preguiçosamente; um peixe prateado
saltando no meio das águas luminosas
naquela noite em que descemos o rio de
canoa, mãos dadas, remos abandonados
ao léu, uma lua cujos raios atravessavam
os altos ramos das árvores da margem
onde olhos brilhantes dos bichos espreitavam
sorrateiramente esperando
uma presa para devorar. Está tudo escrito
e grafado nas colunas esmaecidas
do livro do Deve e não sabemos para
quem pagar. Talvez para o tempo, este
terrível inimigo que espreita dia e noite,
aguardando a oportunidade de nos levar
para o desconhecido. No entanto, acreditamos
deve ter algum Haver esquecido
na bolsa ou na algibeira daquela mulher
que levou embora nosso pequeno e frágil
coração juvenil...

Juvenil de Souza coleciona
botões de times de futebol.


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