Todos saiam cedo tropeçando nos dormentes, tentando um equilíbrio precário com um pé só na linha, saltando os mata-burros de ferro, vários jovens andando na tarde rumo à quermesse em Nhumirim.
Alguns privilegiados iam de carro de aluguel e faziam “panca” no meio da rua, encostados ao carro. Chegávamos no lusco-fusco e já tinha música tocando, pessoas andando nas ruas de terra, mocinhas de vestido novo, igreja enfeitada e aberta, barracas de rifa, de pesca, da argola e a tômbola, onde se jogava como nos bingos de hoje.
Quem cantava as pedras sabia os segredos e os nomes dos números: Êi-la:
Para o 24; sapatão do Guido Tártaro! para o 44; dois patinhos na lagoa! para o 22; dois machados num pau só! para o 77;Nono! para o 90 e assim por diante.
Tinha o terno, para quem acertasse três números, cinquina, para cinco números e tômbola para quem completasse a cartela. O prêmio era uma garrafa de vinho, goiabada, pencas de laranja, nunca dinheiro. No barracão maior ficavam as mesas onde se comia frango assado e era realizado o leilão, com o leiloeiro gritando: “Quem dá mais por esse leitão”, que às vezes era um frango.
E tinha o vai e vem de jovens flertando seguido da troca esperançosa de correios-
elegantes. O pessoal marcava hora de ir embora no pátio da estação. Não podia ser muito tarde porque a estrada era cheia de fantasmas, lobisomens e assombrações.
Um colega tinha lanterna e alumiava o caminho de pedras pretas, todos esperando pelo pior.
Lá deixamos milhares de correios-elegantes que não foram respondidos até hoje.
Juvenil de Souza espera ansioso a chegada do Natal para comer frango assado e beber guaraná.
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