Somos da geração qwerty, as primeiras
teclas das antigas máquinas de escrever.
Quando a gente era ainda um petiz,
tinha que ir para a escola de dactilographya
aprender bater à máquina e talvez,
quem sabe, obter um bom emprego no
futuro. A escola de dactilographya, que
não era escola, era a sala de visita do
professor, tinha quatro máquinas Remington
Smith & Corona , mesinhas de
tábua comum e cadeiras de encosto alto
para que a gente não ficasse encurvado.
O teclado da máquina era encoberto
por uma armação de madeira que não
deixava ver as teclas pretas com letras
brancas. Tínhamos que decorar as lições
para que os dedos batessem as teclas
automaticamente, sem olhar o teclado.
Na máquina meio emperrada e que
ninguém queria usar, o antipático aluno
aplicado não errava nenhuma lição,
era o bamba da dactilographya. Fazia a
lição como autômato, soberanamente,
dono do mundo. Mas não sabia e nunca
veio a saber que lá no fundo da sala, a
gente ensinava sorrateiramente sua bela
namorada a dactilographar com apenas
dois dedos. E eram horas e horas de joelhos,
braços, bocas e pernas lado a lado,
qwertyuiop, tactactac! sentindo o sopro
daquele coração ardente que parecia bater
dentro do nosso coração.
Juvenil de Souza é um autômato
japonês comprado no Paraguai.
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