A molecada aprendia a nadar no
poço fundo do córrego do Matadouro,
córrego da Maria Baiana, na Pedra Escorregosa,
na Cachoeirinha e às vezes,
no córrego do Barro Preto, que ficava
longe demais. Para começar nadava
cachorrinho, batendo os pés e mãos,
como um verdadeiro cachorro. Aprendia
a mergulhar sem deixar entrar água
no nariz. Aprendia a nadar de arrancão
com as mãos, os pés e as pernas. Era
obrigação: onde já se viu um moleque
descalço, calças curtas e topetes lisos
não saber nadar, caçar de estilingue,
armar arapuca, jogar pião e bolinha de
gude, soltar papagaio, assoviar altíssimo
com os dois dedos nos lábios, jogar bafo
com figurinhas de jogadores de futebol,
rodar arco de ferro e pneus usados, brincar
de salva, pique e de esconder? Foi
naquele tempo, quando aquele bando
de meninos crescia livremente nas ruas,
nos córregos, nos campinhos de futebol
de pés descalços e sem vaidades, que encontramos
toda a coragem para enfrentar
o mundo como enfrentamos hoje,
sem medo, sem lenço e sem documento.
Juvenil de Souza repete
que tudo que escreve aqui
são mentiras e invenções.
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