O livro do não

... não ter namorado aquela menina de olhos mansos e suaves num baile da Colônia Baixa; não ter ido ao reveillon na fazenda Amália em 50 e dançado tango com a morena de olhos verdes e coxas grossas; não ter dado aquele beijo na boca da dama da noite na mágica da bruma branca na avenida deserta, de corações solitários; não ter sido galã de cinema, não ter sido convidado para o piquenique, quando a pessoa amada foi e nem lembrou da gente; não ter ido na brincadeira dançante de gim com soda - limonada na noite de risos no ar; vinho e música e o doce perfume das gardênias que exalava dos cabelos da menina em flor; não ter namorado a moça bonita e rica que veio de fora, sentados à tarde no caramanchão de primaveras na praça da matriz; não ter sido convidado para nenhum churrasco ao entardecer, não ter sido meia esquerda na vida e nem marcado o gol da vitória na último minuto de jogo; sim, esta certeza de que a gente está no final da vida e resta apenas este dolorido e solitário coração.

Juvenil de Souza foi vice-campeão
de um inexpressivo torneio
de dominó há muitos anos.

Próxima crônica
Voltar à página anterior